Compartilhe este post!

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O Albergue de Orisson (Parte 2)

Aprendi, ainda em Curitiba, que a primeira coisa que deve-se fazer quando chega em um albergue é demarcar seu território. Ou seja, colocar seu saco de dormir e suas coisas na sua cama. Foi o que eu fiz. Então peguei minhas coisas para tomar banho, pois a coisa estava ficando feia...  Eram dois banheiros, um para as mulheres e outro para os homens, com uma ducha em cada um. Entrei embaixo do chuveiro, coloquei a moedinha e torci para dar tempo. Deu tempo!

O albergue no dia seguinte pela manhã, tempo chuvoso.
Em seguida, lavei a roupa na pia do banheiro, como indicado, com o sabonete que eu tinha mesmo. Torci bem e coloquei na secadora. Enquanto isso arrumei minhas coisas para dormir, fiz algumas anotações (no começo a gente anota...) e tirei algumas fotos do lado de fora do albergue. Quando tirei as roupas da secadora, percebi que estavam bastante úmidas. Pensei em pendurar na janela do meu quarto, mas então chegou um senhor alemão e indicou, apontando o dedo, para pendurar na calefação. Fez um gesto querendo dizer que o pessoal do albergue fica P. da cara e deu risada. Mostrou que ele já tinha pendurado algumas peças. Claro que segui a dica, pois não queria ficar com meias molhadas na mochila.

Como tinha tempo até o jantar, que seria às 19 horas, desci para o restaurante para passar tempo. Pedi uma taça de vinho e um sanduíche de queijo de ovelha, para experimentar. Enquanto me deliciava com o queijo, anotava mais algumas coisas e observava o ambiente. Numa mesa do outro lado do restaurante estavam uma senhora e uma mulher um pouco mais nova, as mesmas que passaram por mim pouco antes do granizo. Ficamos ali até o jantar, quando vieram ou outros peregrinos. Primeiro jantar no Caminho, gostei muito. Comida farta e muito vinho, muita conversa e muita mímica, foi muito divertido.

Depois do jantar, cansados e em um lugar isolado, não restava muita opção senão dormir. Não foi muito fácil, mas uma hora o sono veio. Lá pelo meio da madrugada, aquela senhora simpática, esposa do alemão que  me falou para usar a calefação, teve um pesadelo. Acordou dando um baita grito! Eu, que estava na parte de cima do beliche, grudei as unhas no teto! Lá se foram mais 30 minutos pelo menos para dormir novamente.


O tempo estava feio pela manhã, 
e não parecia que iria melhorar tão cedo.
Por volta das 6 horas, todo mundo acordando, e eu querendo dormir mais, mas não podia. Levantei, fui arrumar minhas coisas, muito devagar e com calma. Quando vi eram mais de 7 horas, a hora do café! Soquei tudo na mochila e desci correndo. O pessoal já estava na metade e não tinha sobrado muita coisa, mas ainda assim consegui comer bem. Não como deveria, mas eu ainda era inexperiente no Caminho e achei que era o suficiente.


A chuva fina parava e voltava. O frio e o vento davam vontade de não sair.




sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O Albergue de Orisson (Parte 1)


Chegando no albergue de Orisson.
Nem acreditava que estava chegando no primeiro albergue do meu caminho. Estava cansado, ansioso e com fome. Estava também um pouco inseguro pois nunca tinha dormido em um albergue, estava sozinho, teria que falar com peregrinos de outras partes do mundo e não sabia como seria esta experiência. Além disso, a subida tinha sido dura, peguei muito sol, chuva, granizo, chuva, sol de novo, um pouco de barro também. Sem falar que já acumulava muitas horas sem dormir direito.

Entrei no restaurante, localizei o proprietário e fui falando, em francês, que tinha feito uma reserva no meu nome. Ele perguntou o sobrenome, falei qual era e ele começou a procurar, procurar... perguntou de novo, pediu para soletrar, e nada de achar meu nome. Ele já aparentava um certo nervosismo, e eu também, pois comecei a achar que estava falando algo errado. Falei que tinha reservado por e-mail e que confirmei a reserva "lá embaixo", em SJPP. Mostrei a cópia do e-mail, ele olhou, procurou no caderno dele, e nada de achar. Pediu para ver meu passaporte e soltou um "ah! você tem dois sobrenomes! Está aqui tua reserva. Eu já estava achando que eu tinha feito besteira!". 
O bar/recepção do albergue
Ufa! Fez então o meu registro, colocou o carimbo do albergue na minha credencial (o primeiro carimbo em albergue a gente nunca esquece!) e me levou até a parte de cima do restaurante, onde ficam os quartos. Indicou um beliche e disse para eu ficar na parte de cima, explicando que no Caminho é o costume: mais jovens na parte de cima para que os mais velhos e os que estiverem com algum problema possam ficar na parte de baixo. Corretíssimo! 
Mostrou o banheiro, falou mais algumas coisas e mandou o encarregado me dar a ficha do banheiro (?). Ao receber a ficha, o encarregado me explicou que devia coloca-la na "caixinha" em cima da torneira do chuveiro. A partir deste momento teria 5 minutos de água. E, detalhe, era daquelas torneiras que você aperta e sai água por alguns segundos, então você tem que apertar de novo. Mas compreendi que se não fizessem assim, um peregrino mais demorado poderia atrapalhar (e muito) os outros. 
O deck em frente ao albergue.
Perguntei sobre lavar a roupa e ele disse que poderia lavar à mão no banheiro e secar na máquina, já que o tempo estava chuvoso. Como não sabia se teria uma oportunidade de lavar no próximo albergue, comprei uma ficha da secadora. E já estava com alguma roupa suja acumulada, como o fleece que lavei e sequei de qualquer jeito no banheiro do café, na estação de Bayonne.
Reconhecido o lugar e recebidas as instruções, fui então me ajeitar e fazer a minha "obrigação" do dia.
A linda vista do deck do albergue de Orisson.

domingo, 11 de outubro de 2015

Primeira etapa: Saint-Jean-Pied-de-Port à Orisson (7,5km)

Primeira subida ao sair de SJPP.
Como comentei no post anterior, saí de Saint-Jean-Pied-de-Port junto com dois alemães. Na saída da cidade encontramos uma pequena mercearia onde eu comprei uma garrafa de água mineral, um chocolate - bom para dar energia, uma maçã e umas barrinhas de cereal. Todo peregrino iniciante tem mania de acreditar em conselhos de quem nunca esteve no Caminho ou esteve a passeio. Ou ainda acha que sabe das coisas e não ouve os mais experientes. Frases como "cada um é de um jeito", "eu me conheço", "conheço meus limites" ou ainda "eu sei o que fazer" são comuns entre os novatos. E não sei o motivo, principalmente entre os brasileiros (sempre sabem de tudo).

A paisagem é linda e a subida, praticamente constante.
Continuamos e logo que saímos da cidade já enfrentamos a primeira subida forte. Porém ainda era tranquilo. Aos poucos, os dois começaram a falar somente em alemão por ser mais confortável para eles. Além disso, caminhavam bem rápido. Tentei acompanha-los nos primeiros quilômetros, mas comecei a lembrar de um conselho que ouvi muito: "faça o teu rítmo, não tente ir mais rápido do que pode. Mesmo que isso signifique "perder" uma companhia, é melhor do que ter que abandonar o Caminho por ter alguma lesão. Se estiver andando em grupo, combine o destino para se encontrarem depois, mas não tente ir além da tua capacidade". Com isso em mente, avisei os alemães e comecei a caminhar mais devagar. Além deste conselho, um outro também ecoava na minha cabeça: "não tenha pressa, desfrute o caminho. Não é uma corrida. Aprecie a paisagem, converse com outros peregrinos, ouça suas histórias, aproveite a natureza". E foi o que comecei a fazer. Ainda bem que estes conselhos eu segui já no começo, pois a etapa dos Pirineus é uma das mais lindas. 

A região produz queijo de ovelha. Podemos vê-las por toda parte.


Este é o albergue de Hunto.
Eu acho que já era cerca de onze horas, e eu percebia que a subida nunca acabava. Olhava para trás e via as cidadezinhas pequenas, bem lá embaixo. O tempo estava incrível, o céu azul deixava tudo mais bonito e ajudava a dar um pouco mais de ânimo para continuar. Deposi de não sei quanto tempo caminhando (lembre-se, eu não tinha mais relógio. E não levei celular), cheguei ao albergue de Hunto. Havia um bar, mas parecia fechado. Resolvi continuar em frente, pois sabia que Hunto ficava a cerca de 5km de SJPP, e Orisson a uns 3km dali. 
No início da trilha, um pastor passando com suas ovelhas.
Uns 300m depois de Hunto o Caminho segue por uma trilha por aproximadamente 900m. Isso poupa o peregrino de ir pelo asfalto e andar 500m a mais. Porém, tudo tem um preço: a subida é forte. Para ter uma ideia, saí de SJPP, a cerca de 160m de altitude. Até Hunto, 5km depois, cheguei a mais ou menos 400m. De hunto até o fim da trilha, sobe mais 200m em 1.2km.

Aqui é possível ver que o tempo estava mudando...
Bem, começando a trilha, olhei para trás para ver a paisagem e percebi que o tempo estava mudando. Nuvens muito escuras estavam se aproximando. Realmente o que eu tinha lido era verdade, o tempo muda muito nos Pirineus, e muito rápido. Caminhando alguns metros, cheguei ao primeiro "cotovelo", a primeira curva fechada, bem no começo da subida mais forte. Resolvi parar ali para descansar, apreciar um pouco a vista e comer algo. Comi a maçã, tomei um pouco de água e, percebendo que o vento estava mais forte e as nuvens mais próximas, decidi pegar a capa de chuva. Foi uma sorte, pois mal comecei a vesti-la começou uma chuva, seguida de granizo, pequenos, mas ainda assim, granizo. Enquanto eu comia, passaram duas mulheres, aparentemente mãe e filha. Cumprimentaram e pararam um pouco para cima. Depois continuaram, pouco antes de eu fazer o mesmo.

Pouco depois da chuva parar, já perto de Orisson.


Chegando no albergue de Orisson.
Já em cima, saindo da trilha, andei mais 100m e cheguei em um mirante onde tinha uma mesa com indicações para identificar o que pode-se ver lá de cima. Parei mais um pouquinho ali. Ao continuar, já sem chuva, o sol voltou e o vapor erguia-se do asfalto. Neste ponto passou por mim um casal francês. E estavam animados, ele cantando alto. Se ofereceu para fazer uma foto minha quando viu que eu estava com a máquina na mão registrando a paisagem. Falei que eu estava cansado, que parecia que não chegaria nunca em Orisson e ele disse que estávamos bem perto, que era logo depois da curva. Falamos um pouco do tempo, mostrei o gelo em cima das montanhas que podíamos ver e ele me acalmou dizendo para não me preocupar, que não era mais época para neve, que devia ser o granizo que acabara de cair. Continuaram então num passo mais rápido e eu fui devagar atrás, tirando fotos, curtindo o Caminho. Bom, estava muito cansado também, não conseguiria ir rápido mesmo.
Mais alguns metros e já consegui avistar o albergue. Dei graças à Deus pois para chegar ali foram dois dias sem descansar direito, dormindo  mal e pouco.



A vista em Orisson é linda, vale a pena parar para admirar.




O albergue e restaurante de Orisson, bem na passagem dos peregrinos.




quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Viagem de trem, de Paris a Saint-Jean-Pied-de-Port, passando por Bayonne

A fila para entrar no trem em Paris.
Escolhi um trem-hotel para viajar, pois passando a noite no trem economizaria a hospedagem e ganharia tempo, chegando bem cedo em Saint-Jean-Pied-de-Port. O comboio chegou e logo vi a longa fila se formar. Esperei um pouco e fui enfrenta-la. Poucos minutos depois passei para a plataforma de embarque e fui procurar o meu vagão. Planejei entrar no espírito peregrino em todo o trajeto, então escolhi uma cabine segunda classe, com 6 camas. Na minha cabine tinha somente um colombiano, por sorte, pois a cabine era muito apertada. Se tivesse 6 pessoas nela mal poderíamos respirar. As camas eram bem estreitas e sentar nelas, nem pensar. Ou seja, a segunda classe é o lugar para quem não quer ou não pode pagar por um mínimo de conforto.


O vagão que viajei de Paris à Bayonne.
A cabine de segunda classe.
Realmente muito apertada.






Levei um relógio que carregava pendurado na mochila, mas como peguei chuva em Paris, o relógio à prova d'água (o camelô me garantiu!) parou de funcionar. E era a única forma de saber as horas no trem, sem falar que seria meu despertador.
A mochila com o relógio estragado,
na minha cama na cabine do trem.
Mal dormi durante a viagem, pois, além da ansiedade, eu tinha duas grandes preocupações: medo que alguém mexesse na minha mochila e medo de perder a estação, pois não tinha despertador para me avisar do horário aproximado de chegar. Isso me fez acordar a cada estação que o trem parava, mesmo estando muito cansado.
Chegando na estação de Bayonne, ouvi os gritos do lado de fora do trem: "Bayonne! Terminus! Bayonne!". Se eu soubesse que Bayonne era o fim do trajeto e que teria alguém gritando para anunciar talvez eu tivesse dormido um pouco mais tranquilo. Marinheiro de primeira viagem sempre acaba aprendendo da pior forma. 

Na plataforma de desembarque era fácil identificar os peregrinos saindo do trem com a peculiar mochila e seus bastões pendurados. Alguns sozinhos, como eu, e outros com um ou mais amigos. Ali pude perceber que muitos eram alemães. Aliás, isto foi algo que me chamou a atenção no Caminho, a quantidade de alemães. Acho que só perdiam em número para os espanhóis.

Peregrinos desembarcando em Bayonne.
Ainda estava escuro e faltavam cerca de duas horas para o trem que levaria até SJPP. Como em Paris não comi direito, pois estava mal do estômago (tinha até passado mal) e a ansiedade também atrapalhava, estava morrendo de fome. Fui direto para o restaurante da estação de Bayonne para tomar um café. Aproveitei para treinar (e testar) um pouco do meu francês que há muito tempo não praticava, conversando um pouco com a senhora do café. Ali comecei a sentir um pouco do que é ser peregrino: a solidão e a distância de casa faz você querer falar com as pessoas.
O café da estação de Bayonne.
Terminado meu café, fui procurar o banheiro da estação, e descobri que precisava de moedas para entrar. Voltei ao café e pedi para a garçonete trocar umas moedas para o banheiro. Então ela mostrou que tinha banheiro no restaurante, nos fundos. Fui até a porta indicada e vi as escadas que levavam para o andar de baixo. Observei que, devido à hora, tudo estava sem movimento e muito quieto. Aproveitei a pia do banheiro (com água quente) para lavar meu fleece que eu tinha sujado, e sequei um pouco no secador de mãos. 
Igreja do Espírito Santo, em frente à estação de trens de Bayonne.

Estação de trens de Bayonne,
 amanhecendo o dia às 7 horas.
Tudo pronto e ainda sobrando tempo, fui dar uma volta perto da estação. Não muito familiarizado com o ambiente, e ainda por cima sendo brasileiro, acostumado com a violência das cidades, não me distanciei muito por estar preocupado com a segurança. Mas as poucas quadras foram o suficiente para saber que a cidade era muito bonita. 
Quando começou a amanhecer, voltei para a estação. Percebendo que o horário do trem estava perto e nem sinal da bilheteria abrir, resolvi me arriscar na máquina automática. Comprei minha passagem com o cartão de crédito, que por sorte já tinha chip, pois não era muito comum nos cartões brasileiros e era exigido na máquina. Mal terminei a operação vieram alguns alemães pedir ajuda, em inglês, pois não tinham ideia de como fazer, ainda mais estando tudo em francês. 
O trem para SJPP chegou, era um trem de apenas um vagão, que estava lotado de peregrinos. O trajeto, de aproximadamente 90 minutos, era muito bonito. Descansei um pouco, tirei fotos, conversei com alguns peregrinos, todos muito excitados com a ideia de estar chegando no começo do Caminho. De repente, o trem parou em cima de uma ponte. Brinquei dizendo que todos teriam que descer ali mesmo, e outros fizeram piadas semelhantes. Alguns minutos depois veio o maquinista avisar que a linha estava com problemas e que teriamos que andar os ultímos metros 600 metros a pé. Foi então que todo mundo riu, pois a brincadeira virou realidade.
Os peregrinos desembarcando no meio da ponte,
a pouco mais de 600 metros da estação de SJPP.
Descendo do trem, logo veio um peregrino perguntando de quem era um chapéu que alguém esqueceu. Era o meu. Na estação tirei algumas fotos e rumei para a oficina dos peregrinos para pegar meu primeiro carimbo, minha vieira, as instruções sobre a etapa dos Pirineus e pedir para confirmarem minha reserva em Orisson, que eu tinha feito ainda no Brasil por e-mail. Foi na fila para entrar na oficina que vieram procurar um brasileiro que tinha perdido a credencial. Adivinhe quem era o tal brasileiro! Eu, claro!
Em seguida aproveitei para dar uma volta rápida pela "Rue de la Citadelle" e tirar algumas fotos, além de procurar um mercado para comprar algumas coisas para levar na travessia dos Pirineus. Sempre é bom ter alguma comida na mochila, ainda mais nestas etapas mais duras. Bom, o mercado estava fechado. Os alemães que estavam comigo estavam com pressa para sair, então resolvemos iniciar a caminhada. Eu ainda queria conhecer um pouco da cidade, mas preferi acompanha-los para não começar sozinho.


As duas fotos acima foram tiradas na "Rue de la Citadelle", em SJPP.

Rio Nive, em Saint-Jean-Pied-de-Port, na saída para o Caminho de Santiago.




terça-feira, 10 de novembro de 2009

Paris e a Torre de Saint Jacques

Ainda no aeroporto, fui até a estação do metro, ou melhor, do RER (trem que vai até Paris e é interligado com o metrô). Comprei meu ticket de turista para o dia todo, aproveitando para trocar uma nota de 100 Euros. Tinham me avisado  da dificuldade de trocar notas de cem na Espanha, e eu havia esquecido de pedir notas pequenas ao comprar Euros, no Brasil.
Peguei o trem que ia direto para a Gare du Nord, seguindo as dicas que descobri na Internet. Há outro que vai parando em estações do subúrbio. Fui até a estação Saint-Michel-Notre-Dame, onde começaria meu passeio. Queria conhecer primeiramente a Catedral de Notre-Dame.
Chegando à estação, dei algumas voltas até achar a saída correta. Achei o metrô de Paris um pouco confuso para quem não conhece, diferente do de outras cidades.
Notre-Dame de Paris e o rio Sena.
Saindo, pude sentir o frio, que não era pouco. A garoa havia dado uma trégua. Eu não tinha uma jaqueta, nem algo para enfrentar tanto frio, pois pesaria muito na minha mochila. O recomendado era levar pouco peso, somente o necessário, e não ultrapassar 10% do meu peso. Eu já estava levando 15% do meu peso, cerca de 11 quilos. E haviam me contado que na Espanha, nesta época do ano, já estaria mais quente.
Logo que saí avistei a Catedral. Linda! Fiquei contemplando-a e lembrando do livro Notre Dame de Paris de Vitor Hugo, imaginando as cenas, o corcunda e tudo mais. Fui até ela, que já estava fechada. Tirei algumas fotos e fui de metrô procurar a Torre Eiffell. Ir até Paris e não conhecer a Torre seria o mesmo que não conhecer Paris. Saindo novamente do metrô, avistei a torre, enorme, gigante. A garoa voltou. Mas isso não me intimidou. Fui até seus pés. Decidi não subir nela, a enorme fila faria eu perder muito tempo e eu ainda queria conhecer os arredores.

Torre Eiffel, ir a Paris e não conhece-la é o mesmo que não ir.
Segurando a bolsa com o pé...
Tentei ir andando de volta até a Catedral, mas a garoa já tinha se transformado em chuva. Eu já estava encharcado. A mochila tinha uma capa de chuva e não molhou. A minha capa de chuva estava dentro da mochila e seria muito difícil pegá-la, e não adiantaria muito colocar a capa depois de me molhar. O frio eu nem percebia muito, de tão empolgado que estava com a cidade.
Entrei novamente no metrô e fui até a estação da Catedral. Já estava escurecendo. Andei até a Praça de Greve, rodei pela região, comi um crepe com Nutela e banana (por que eles gostam tanto de banana verde?), e fui andar um pouco mais nas proximidades.



Torre Saint-Jacques (Santiago), em Paris.
Avistei então uma torre, muito bonita, que me chamou a atenção. Sem explicação, deu uma enorme vontade de ir até ela, tirar umas fotos. Dei uma volta completa nela. Era a Torre de Saint-Jacques. Nunca tinha ouvido falar, mas achei muito bonita. Estava tão cansado e preocupado com a chuva e o horário, que não percebi o detalhe: Saint Jacques é  São Tiago, em francês. Mais tarde, já no Brasil, vendo um documentário sobre o Caminho de Santiago, descobri que esta torre era o ponto de início do Caminho para os peregrinos, antigamente. Feliz coincidência!
Da torre, voltei para a Catedral e em seguida para o metrô. Estava preocupado com o horário, com medo de demorar muito para achar a estação, o que acabou sendo muito tranquilo. Acabei chegando com 2 horas e meia de antecedência. Deu tempo de tomar um café e comprar alguns chocolates. Ainda não conseguia comer muita coisa, apesar do frio e da fome. Acho que por causa da ansiedade.
Pensei em tomar um banho na estação, onde havia banheiro limpo e quente, mas achei melhor não, o medo de perder o trem era grande, mesmo tendo chegado tão adiantado. E teria que mexer na mochila toda, que ainda não estava tao arrumada. Eu havia ajeitado as coisas na mochila de maneira mais fácil para despachar, no avião, não da maneira adequada para a caminhada. E ainda carregava outra bolsa, com as coisas que poderia precisar a bordo do avião ou do trem.
 Aproveitei o tempo que tinha para conhecer a estação e tirar mais algumas fotos.

Hôtel de Ville, Paris.






sábado, 24 de outubro de 2009

Indo para o Caminho de Santiago por Paris


Acordei pouco antes de poder avistar terra firme. Na telinha do avião mostrava que estava chegado na França e olhando pela janela só podia ver o mar. Seriam mais algumas horas de viagem ainda. Apesar de não ter dormido direito, não consegui dormir mais. Estava muito ansioso, não via a hora de chegar à Paris.
Comecei a lembrar de quando estava planejando a viagem. O primeiro plano era chegar por Madri, ir então até Pamplona, onde pegaria um taxi no aeroporto para Saint Jean Pied-de-Port ou Roncesvales. Este era o itinerário mais comum dos brasileiros que começam o Caminho pelos Pirineus ou logo depois, já na Espanha. Quando eu estava pesquisando, pensei na vontade que tinha de conhecer Paris. Mas seria mais difícil, depois de chegar à Santiago de Compostela, voltar até Paris. Foi quando um amigo falou que poderia ir por uma cidade e voltar por outra, dependendo da companhia aérea.
Sabendo desta possibilidade, preferi ir por Paris, onde ficaria por uns dias e depois seguiria com minha viegem. Mudei minha estratégia, pois calculando melhor, percebi que era melhor passear no final, se sobrasse tempo. Imaginou não terminar o caminho por causa de 1 dia de passeio em Paris? Não, eu não iria arriscar. Meu tempo de férias não permitiam brincar com o tempo, apesar de ter con seguido uns dias a mais por tê-las emendado a um feriado, prolongando-a um pouco. Assim achei melhor ficar somente o necessário em Paris, e aproveitar as poucas horas que teria antes do meu trem partir.
Ao falar com a mulher que estava sentada ao meu lado, a comissária de bordo trouxe-me de volta ao presente. Era hora do café da manhã, e apesar de eu não ter passado muito bem nas horas anteriores, não poderia ficar sem comer. Ainda mais que o cheiro de café já inundava o ambiente e despertava o apetite.
Quando o avião começou a descer, as nuvens começaram aparecer. O tempo estava muito feio em Paris, nuvens, garoa, frio. Mas teria que aproveitar o que pudesse mesmo assim.
Assim que desembarquei comprei um cartão telefôico e liguei para a família, dizer que cheguei bem e que a viagem foi boa. Depois fui até o lado de fora do aeroporto conferir o clima. Realmente estava frio, com um pouco de garoa.

domingo, 11 de outubro de 2009

Decidindo ir para o Caminho de Santiago


A primeira vez que ouvi falar sobre o Caminho de Santiago foi em 1992. Sem saber exatamento o porquê, despertou em mim um interesse especial. Tentei pesquisar mais sobre o assunto, mas na época era muito dif'ícil, o material era muito escasso. De qualquer forma, estava convicto que queria fazer o tal Caminho de Santiago. Não tinha nem idéia de como nem quando ir. E o "como ir" era em termos financeiros mesmo. Sabia que queria ir, e que iria, só isso.
Comecei então a treinar, andando a pé para todos os lugares que necessitasse ir: ao colégio, ao mercado, visitar os amigos, principalmente os que morassem em bairros um pouco mais distantes. De quebra economizava o dinheiro do ônibus.
O tempo foi passando, a vida foi dando suas voltas, e acabei deixando de lado esta idéia. Deixei de lado, mas não esqueci. E sempre que ouvia falar sobre este assunto em algum lugar - reportagens, amigos comentando ou mesmo estranhos conversando - meu coração batia mais forte e voltava o pensamento: "um dia vou fazer o Caminho de Santiago". As vezes tentava convencer os amigos a irem comigo, Em vão, pois ninguém se entusiamava com o Caminho.
Quando eu falava com as pessoas mais próximas a mim desta vontade, todos - talvez eu também - falavam como algo interessante, porém inatingível, algo que não aconteceria nunca. Era como conversar sobre o que fazer se ganhasse na loteria.
Os anos foram passando, coisas acontecendo... e a vontade um dia voltou, muito mais forte que antes. Resolvi que faria o caminho mesmo. Poderia, se realmente quisesse. Comecei a caminhar novamente, comprei uma mochila, um par de botas e um bastão de caminhada, que seria o meu "cajado" no Caminho.
Comecei caminhando de casa ao trabalho e do trabalho para casa, depois fui aumentando a distância, inventando caminhos alternativos neste trajeto que eu fazia todos os dias. Isto me ajudou bastante, mas não era nada comparado ao Caminho.
Marquei minhas férias, peguei minha credencial de peregrinho, comprei o que faltava dos equipamentos. Só restavam a passagem e a decisão sobre o ponto de partida.
A compra da passagem foi a parte mais difícil. Sabia que depois que comprasse a passagem, não haveria mais volta. Confesso que tive um pouco de dúvida, talvez pelo medo do desconhecido, antes de efetuar minha reserva.
Antes de partir, pesquisei o básico sobre o início do Caminho. Não me aprofundei, pois queria "descobrir o Caminho" estando lá. Queria "aprender" o Caminho, queria que ele me guiasse.
Foi nestas poucas pesquisas que resolvi iniciar por Saint Jean Pied-de-Port, na França, quase divisa com a Espanha, e que seria por Paris que iria. De lá iria para Bayonne de trem, onde pegaria outro trem, para Saint Jean Pied-de-Port.
Tudo organizado, comprei as passagens - de avião para Paris e de trem, para Bayonne. O último trem, para Saint Jean Pied-de-Port eu teria que comprar pessoalmente, na estação.
Agora era só aguardar a tão esperada data.