Comecei então a treinar, andando a pé para todos os lugares que necessitasse ir: ao colégio, ao mercado, visitar os amigos, principalmente os que morassem em bairros um pouco mais distantes. De quebra economizava o dinheiro do ônibus.
O tempo foi passando, a vida foi dando suas voltas, e acabei deixando de lado esta idéia. Deixei de lado, mas não esqueci. E sempre que ouvia falar sobre este assunto em algum lugar - reportagens, amigos comentando ou mesmo estranhos conversando - meu coração batia mais forte e voltava o pensamento: "um dia vou fazer o Caminho de Santiago". As vezes tentava convencer os amigos a irem comigo, Em vão, pois ninguém se entusiamava com o Caminho.
Quando eu falava com as pessoas mais próximas a mim desta vontade, todos - talvez eu também - falavam como algo interessante, porém inatingível, algo que não aconteceria nunca. Era como conversar sobre o que fazer se ganhasse na loteria.
Os anos foram passando, coisas acontecendo... e a vontade um dia voltou, muito mais forte que antes. Resolvi que faria o caminho mesmo. Poderia, se realmente quisesse. Comecei a caminhar novamente, comprei uma mochila, um par de botas e um bastão de caminhada, que seria o meu "cajado" no Caminho.
Comecei caminhando de casa ao trabalho e do trabalho para casa, depois fui aumentando a distância, inventando caminhos alternativos neste trajeto que eu fazia todos os dias. Isto me ajudou bastante, mas não era nada comparado ao Caminho.
Marquei minhas férias, peguei minha credencial de peregrinho, comprei o que faltava dos equipamentos. Só restavam a passagem e a decisão sobre o ponto de partida.
A compra da passagem foi a parte mais difícil. Sabia que depois que comprasse a passagem, não haveria mais volta. Confesso que tive um pouco de dúvida, talvez pelo medo do desconhecido, antes de efetuar minha reserva.
Antes de partir, pesquisei o básico sobre o início do Caminho. Não me aprofundei, pois queria "descobrir o Caminho" estando lá. Queria "aprender" o Caminho, queria que ele me guiasse.
Foi nestas poucas pesquisas que resolvi iniciar por Saint Jean Pied-de-Port, na França, quase divisa com a Espanha, e que seria por Paris que iria. De lá iria para Bayonne de trem, onde pegaria outro trem, para Saint Jean Pied-de-Port.
Tudo organizado, comprei as passagens - de avião para Paris e de trem, para Bayonne. O último trem, para Saint Jean Pied-de-Port eu teria que comprar pessoalmente, na estação.
Agora era só aguardar a tão esperada data.
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