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quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Viagem de trem, de Paris a Saint-Jean-Pied-de-Port, passando por Bayonne

A fila para entrar no trem em Paris.
Escolhi um trem-hotel para viajar, pois passando a noite no trem economizaria a hospedagem e ganharia tempo, chegando bem cedo em Saint-Jean-Pied-de-Port. O comboio chegou e logo vi a longa fila se formar. Esperei um pouco e fui enfrenta-la. Poucos minutos depois passei para a plataforma de embarque e fui procurar o meu vagão. Planejei entrar no espírito peregrino em todo o trajeto, então escolhi uma cabine segunda classe, com 6 camas. Na minha cabine tinha somente um colombiano, por sorte, pois a cabine era muito apertada. Se tivesse 6 pessoas nela mal poderíamos respirar. As camas eram bem estreitas e sentar nelas, nem pensar. Ou seja, a segunda classe é o lugar para quem não quer ou não pode pagar por um mínimo de conforto.


O vagão que viajei de Paris à Bayonne.
A cabine de segunda classe.
Realmente muito apertada.






Levei um relógio que carregava pendurado na mochila, mas como peguei chuva em Paris, o relógio à prova d'água (o camelô me garantiu!) parou de funcionar. E era a única forma de saber as horas no trem, sem falar que seria meu despertador.
A mochila com o relógio estragado,
na minha cama na cabine do trem.
Mal dormi durante a viagem, pois, além da ansiedade, eu tinha duas grandes preocupações: medo que alguém mexesse na minha mochila e medo de perder a estação, pois não tinha despertador para me avisar do horário aproximado de chegar. Isso me fez acordar a cada estação que o trem parava, mesmo estando muito cansado.
Chegando na estação de Bayonne, ouvi os gritos do lado de fora do trem: "Bayonne! Terminus! Bayonne!". Se eu soubesse que Bayonne era o fim do trajeto e que teria alguém gritando para anunciar talvez eu tivesse dormido um pouco mais tranquilo. Marinheiro de primeira viagem sempre acaba aprendendo da pior forma. 

Na plataforma de desembarque era fácil identificar os peregrinos saindo do trem com a peculiar mochila e seus bastões pendurados. Alguns sozinhos, como eu, e outros com um ou mais amigos. Ali pude perceber que muitos eram alemães. Aliás, isto foi algo que me chamou a atenção no Caminho, a quantidade de alemães. Acho que só perdiam em número para os espanhóis.

Peregrinos desembarcando em Bayonne.
Ainda estava escuro e faltavam cerca de duas horas para o trem que levaria até SJPP. Como em Paris não comi direito, pois estava mal do estômago (tinha até passado mal) e a ansiedade também atrapalhava, estava morrendo de fome. Fui direto para o restaurante da estação de Bayonne para tomar um café. Aproveitei para treinar (e testar) um pouco do meu francês que há muito tempo não praticava, conversando um pouco com a senhora do café. Ali comecei a sentir um pouco do que é ser peregrino: a solidão e a distância de casa faz você querer falar com as pessoas.
O café da estação de Bayonne.
Terminado meu café, fui procurar o banheiro da estação, e descobri que precisava de moedas para entrar. Voltei ao café e pedi para a garçonete trocar umas moedas para o banheiro. Então ela mostrou que tinha banheiro no restaurante, nos fundos. Fui até a porta indicada e vi as escadas que levavam para o andar de baixo. Observei que, devido à hora, tudo estava sem movimento e muito quieto. Aproveitei a pia do banheiro (com água quente) para lavar meu fleece que eu tinha sujado, e sequei um pouco no secador de mãos. 
Igreja do Espírito Santo, em frente à estação de trens de Bayonne.

Estação de trens de Bayonne,
 amanhecendo o dia às 7 horas.
Tudo pronto e ainda sobrando tempo, fui dar uma volta perto da estação. Não muito familiarizado com o ambiente, e ainda por cima sendo brasileiro, acostumado com a violência das cidades, não me distanciei muito por estar preocupado com a segurança. Mas as poucas quadras foram o suficiente para saber que a cidade era muito bonita. 
Quando começou a amanhecer, voltei para a estação. Percebendo que o horário do trem estava perto e nem sinal da bilheteria abrir, resolvi me arriscar na máquina automática. Comprei minha passagem com o cartão de crédito, que por sorte já tinha chip, pois não era muito comum nos cartões brasileiros e era exigido na máquina. Mal terminei a operação vieram alguns alemães pedir ajuda, em inglês, pois não tinham ideia de como fazer, ainda mais estando tudo em francês. 
O trem para SJPP chegou, era um trem de apenas um vagão, que estava lotado de peregrinos. O trajeto, de aproximadamente 90 minutos, era muito bonito. Descansei um pouco, tirei fotos, conversei com alguns peregrinos, todos muito excitados com a ideia de estar chegando no começo do Caminho. De repente, o trem parou em cima de uma ponte. Brinquei dizendo que todos teriam que descer ali mesmo, e outros fizeram piadas semelhantes. Alguns minutos depois veio o maquinista avisar que a linha estava com problemas e que teriamos que andar os ultímos metros 600 metros a pé. Foi então que todo mundo riu, pois a brincadeira virou realidade.
Os peregrinos desembarcando no meio da ponte,
a pouco mais de 600 metros da estação de SJPP.
Descendo do trem, logo veio um peregrino perguntando de quem era um chapéu que alguém esqueceu. Era o meu. Na estação tirei algumas fotos e rumei para a oficina dos peregrinos para pegar meu primeiro carimbo, minha vieira, as instruções sobre a etapa dos Pirineus e pedir para confirmarem minha reserva em Orisson, que eu tinha feito ainda no Brasil por e-mail. Foi na fila para entrar na oficina que vieram procurar um brasileiro que tinha perdido a credencial. Adivinhe quem era o tal brasileiro! Eu, claro!
Em seguida aproveitei para dar uma volta rápida pela "Rue de la Citadelle" e tirar algumas fotos, além de procurar um mercado para comprar algumas coisas para levar na travessia dos Pirineus. Sempre é bom ter alguma comida na mochila, ainda mais nestas etapas mais duras. Bom, o mercado estava fechado. Os alemães que estavam comigo estavam com pressa para sair, então resolvemos iniciar a caminhada. Eu ainda queria conhecer um pouco da cidade, mas preferi acompanha-los para não começar sozinho.


As duas fotos acima foram tiradas na "Rue de la Citadelle", em SJPP.

Rio Nive, em Saint-Jean-Pied-de-Port, na saída para o Caminho de Santiago.




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