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domingo, 11 de outubro de 2015

Primeira etapa: Saint-Jean-Pied-de-Port à Orisson (7,5km)

Primeira subida ao sair de SJPP.
Como comentei no post anterior, saí de Saint-Jean-Pied-de-Port junto com dois alemães. Na saída da cidade encontramos uma pequena mercearia onde eu comprei uma garrafa de água mineral, um chocolate - bom para dar energia, uma maçã e umas barrinhas de cereal. Todo peregrino iniciante tem mania de acreditar em conselhos de quem nunca esteve no Caminho ou esteve a passeio. Ou ainda acha que sabe das coisas e não ouve os mais experientes. Frases como "cada um é de um jeito", "eu me conheço", "conheço meus limites" ou ainda "eu sei o que fazer" são comuns entre os novatos. E não sei o motivo, principalmente entre os brasileiros (sempre sabem de tudo).

A paisagem é linda e a subida, praticamente constante.
Continuamos e logo que saímos da cidade já enfrentamos a primeira subida forte. Porém ainda era tranquilo. Aos poucos, os dois começaram a falar somente em alemão por ser mais confortável para eles. Além disso, caminhavam bem rápido. Tentei acompanha-los nos primeiros quilômetros, mas comecei a lembrar de um conselho que ouvi muito: "faça o teu rítmo, não tente ir mais rápido do que pode. Mesmo que isso signifique "perder" uma companhia, é melhor do que ter que abandonar o Caminho por ter alguma lesão. Se estiver andando em grupo, combine o destino para se encontrarem depois, mas não tente ir além da tua capacidade". Com isso em mente, avisei os alemães e comecei a caminhar mais devagar. Além deste conselho, um outro também ecoava na minha cabeça: "não tenha pressa, desfrute o caminho. Não é uma corrida. Aprecie a paisagem, converse com outros peregrinos, ouça suas histórias, aproveite a natureza". E foi o que comecei a fazer. Ainda bem que estes conselhos eu segui já no começo, pois a etapa dos Pirineus é uma das mais lindas. 

A região produz queijo de ovelha. Podemos vê-las por toda parte.


Este é o albergue de Hunto.
Eu acho que já era cerca de onze horas, e eu percebia que a subida nunca acabava. Olhava para trás e via as cidadezinhas pequenas, bem lá embaixo. O tempo estava incrível, o céu azul deixava tudo mais bonito e ajudava a dar um pouco mais de ânimo para continuar. Deposi de não sei quanto tempo caminhando (lembre-se, eu não tinha mais relógio. E não levei celular), cheguei ao albergue de Hunto. Havia um bar, mas parecia fechado. Resolvi continuar em frente, pois sabia que Hunto ficava a cerca de 5km de SJPP, e Orisson a uns 3km dali. 
No início da trilha, um pastor passando com suas ovelhas.
Uns 300m depois de Hunto o Caminho segue por uma trilha por aproximadamente 900m. Isso poupa o peregrino de ir pelo asfalto e andar 500m a mais. Porém, tudo tem um preço: a subida é forte. Para ter uma ideia, saí de SJPP, a cerca de 160m de altitude. Até Hunto, 5km depois, cheguei a mais ou menos 400m. De hunto até o fim da trilha, sobe mais 200m em 1.2km.

Aqui é possível ver que o tempo estava mudando...
Bem, começando a trilha, olhei para trás para ver a paisagem e percebi que o tempo estava mudando. Nuvens muito escuras estavam se aproximando. Realmente o que eu tinha lido era verdade, o tempo muda muito nos Pirineus, e muito rápido. Caminhando alguns metros, cheguei ao primeiro "cotovelo", a primeira curva fechada, bem no começo da subida mais forte. Resolvi parar ali para descansar, apreciar um pouco a vista e comer algo. Comi a maçã, tomei um pouco de água e, percebendo que o vento estava mais forte e as nuvens mais próximas, decidi pegar a capa de chuva. Foi uma sorte, pois mal comecei a vesti-la começou uma chuva, seguida de granizo, pequenos, mas ainda assim, granizo. Enquanto eu comia, passaram duas mulheres, aparentemente mãe e filha. Cumprimentaram e pararam um pouco para cima. Depois continuaram, pouco antes de eu fazer o mesmo.

Pouco depois da chuva parar, já perto de Orisson.


Chegando no albergue de Orisson.
Já em cima, saindo da trilha, andei mais 100m e cheguei em um mirante onde tinha uma mesa com indicações para identificar o que pode-se ver lá de cima. Parei mais um pouquinho ali. Ao continuar, já sem chuva, o sol voltou e o vapor erguia-se do asfalto. Neste ponto passou por mim um casal francês. E estavam animados, ele cantando alto. Se ofereceu para fazer uma foto minha quando viu que eu estava com a máquina na mão registrando a paisagem. Falei que eu estava cansado, que parecia que não chegaria nunca em Orisson e ele disse que estávamos bem perto, que era logo depois da curva. Falamos um pouco do tempo, mostrei o gelo em cima das montanhas que podíamos ver e ele me acalmou dizendo para não me preocupar, que não era mais época para neve, que devia ser o granizo que acabara de cair. Continuaram então num passo mais rápido e eu fui devagar atrás, tirando fotos, curtindo o Caminho. Bom, estava muito cansado também, não conseguiria ir rápido mesmo.
Mais alguns metros e já consegui avistar o albergue. Dei graças à Deus pois para chegar ali foram dois dias sem descansar direito, dormindo  mal e pouco.



A vista em Orisson é linda, vale a pena parar para admirar.




O albergue e restaurante de Orisson, bem na passagem dos peregrinos.




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